sem conseguir terminar o que começou,
começar, se mal terminou.
eu imagino lugares onde não estive,
fecho os olhos e eles me surgem como aparição lúcida.
andando a cegas, sem previsão.
não são os mesmos rostos, nem sorrisos,
e as lágrimas só existem em mim.
não se calam ao meu falar, não se comovem ao meu dizer.
ando carregando o cansaço de um velho,
daqueles que espera a morte como novidade.
eu andei jurando amor eterno,
a quem juras se desfazem com o tempo;
mas não no meu tempo, esse mal se sabe,
sabe pouco, sabe muito, sabe que é.
mesmo que. e basta.
então eu resolvi guardar, tudo que de bom restou em mim.
e agora sou corpo vazio. sou tentativa de um porque, e de um porém.
além disso, é fantasia, mera, passageira ilusão; ou não.
já não depende de mim, nem dos que insistem em ter coração.
Any Roux
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
(Álvares de Campos)