domingo, 22 de agosto de 2010

post mortem.




buscando inspiração onde não há,
sem conseguir terminar o que começou,
começar, se mal terminou.
eu imagino lugares onde não estive, 
fecho os olhos e eles me surgem como aparição lúcida.
andando a cegas, sem previsão.
não são os mesmos rostos, nem sorrisos, 
e as lágrimas só existem em mim.
não se calam ao meu falar, não se comovem ao meu dizer.
ando carregando o cansaço de um velho, 
daqueles que espera a morte como novidade.
eu andei jurando amor eterno, 
a quem juras se desfazem com o tempo; 
mas não no meu tempo, esse mal se sabe, 
sabe pouco, sabe muito, sabe que é.
mesmo que. e basta.
então eu resolvi guardar, tudo que de bom restou em mim.
e agora sou corpo vazio. sou tentativa de um porque, e de um porém.
além disso, é fantasia, mera, passageira ilusão; ou não. 
já não depende de mim, nem dos que insistem em ter coração.

Any Roux




O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo, 
Nem sequer de tudo ou de nada: 
Cansaço assim mesmo, ele mesmo, 
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis, 
As paixões violentas por coisa nenhuma, 
Os amores intensos por o suposto em alguém, 
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente
Tudo isso faz um cansaço, 
Este cansaço, 
Cansaço. 

Há sem dúvida quem ame o infinito, 
Há sem dúvida quem deseje o impossível, 
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: 
Porque eu amo infinitamente o finito, 
Porque eu desejo impossivelmente o possível, 
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, 
Ou até se não puder ser... 

E o resultado? 
Para eles a vida vivida ou sonhada, 
Para eles o sonho sonhado ou vivido, 
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... 
Para mim só um grande, um profundo, 
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, 

Um supremíssimo cansaço, 
Íssimo, íssimo, íssimo, 
Cansaço...

(Álvares de Campos)




segunda-feira, 2 de agosto de 2010

insoluções transcritas.




sinto o peso da palavra em cada frase que escrevo.
vejo a noite como o inicio de um tormento,
onde no seu silêncio, é que se pronunciam,
 todos os sons, todas a vozes.
as que não calam, nunca calarão.
sussurros, gritos.
dores, segredos, medos.


agora parei, fechei os olhos, olhei para dentro,
mas não sentir o coração bater.
não encontrei nada além de um grande vazio.
...
eu poderia correr durante horas, 
se fosse necessário,
para fugir de algo que insiste em me seguir, 
mesmo ao infinito.
Já passou pela sua cabeça, que isso está dentro de você?


Se caso estiver, tentei arrancar de todas as formas,
mas é tão imponente, como uma espécie de carma, 
onde não percebi o inicio, e pouco vejo o fim.

Tapei os ouvidos para não ouvir o que tinham a me dizer,
fechei os olhos, quando o mais importante, era enxergar por onde,
e até parei de respirar, pro coração acelerar, e mandar notícias.
falhei inúmeras vezes, quando não falar, era a minha melhor opção.

e até virei inspiração; semelhanças não vão tão longe, afinal.
aprendi o valor do quente sangue nas veias. a entender o acaso.
a ouvir quem nunca imaginei que me pronunciaria a palavra.
a tentar não sentir, o que sinto. mesmo parecendo impossível.
subi o mais alto que pude, para ver o mais longe, além.
e meu caminho alterna, entre luz e trevas.
calmaria, desespero.

O tempo não passa, ele te acompanha, lado a lado, não ultrapassa,
tão pouco, passa despercebido.
você conta as horas, os minutos, que seja,
para que passe a vida 
e sem fim pareça, 
e nessa triste ilusão ela acaba,
e só assim, o medo.

Any Roux
 

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